quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O BELO
Pr.Ariovaldo Ramos


Certa feita, após uma palestra evangelística, fui procurado por uma senhora, que me questionou sobre como Deus nos manteve existindo, uma vez que Ele é santo e nós pecadores, e é nele que nós existimos. Mais que a ira de Deus, seria a santidade do Senhor que nos lançaria para o nada, uma vez que santidade e pecado são incompatíveis entre si.
Admiti a correção do princípio aplicado, porém, invoquei a relação entre o organismo que recebe um transplante, por exemplo de coração, e o órgão transplantado. A relação entre eles seria de rejeição mútua, não fosse a medicação administrada agir como mediadora entre ambos. Expliquei-lhe, então, ser esse o papel do sangue de Cristo, mediar a relação entre Deus e os pecadores, de modo a garantir-nos a continuação na existência.
Embora a resposta tenha satisfeito a senhora, uma questão, relativa à nossa sub-existência, ficou pendente: Uma vez que, ao nos afastarmos do Criador, nossa natureza tornou-se má, deixando-nos sem escolha, a não ser a de pecar, o que, invariavelmente, nos levaria a provocar a nossa extinção, seja por nossa virulência, seja pela justa ira divina, como quase aconteceu no dilúvio. Portanto, para sobreviver, tínhamos de ter nossa pecaminosidade refreada de alguma maneira, ou seja, algo dos atributos divinos teria de nos ser comunicado, pois nos tornamos incapazes de fazer o bem por nós mesmos, necessitando, portanto, de ajuda externa. Graças ao sacrifício de Cristo esse socorro foi possível, é o que alguns teólogos chamam de Graça Comum. É por tal favor divino que seres humanos, que não honram a Deus, conseguem amar, ter senso de justiça, cultivar padrões éticos, ser sensível ao belo, enfim, fazer o bem (por isso, rejeitar, a priori, as manifestações artísticas, como artes plásticas, teatro, cinema, música, entre outras possibilidades do gênio humano, só por não ter sido produzido por crentes no Senhor, é não compreender a atuação da Graça Comum).
A Graça Comum não é para a salvação, é para a manutenção da existência, a graça que é para a salvação é chamada de Graça Especial. A Graça Comum manteve o ser humano na existência, sustentando-nos num padrão ético-moral que não forçasse a precipitação da ira divina sobre nós, em primeiro lugar, para que Cristo pudesse vir; e, agora, mantêm a humanidade num nível de qualidade moral tolerável para que a Igreja possa ser completa, isto é, até que todos os que hão de ser salvos sejam alcançados, assim como, faz valer a pena a Igreja praticar as boas obras que Deus preparou para que andássemos nelas, no que cooperamos com a Graça Comum, sendo sal da terra e luz do mundo, pois, a Graça Comum dá ao não submisso a Deus condições de reagir ao bem. Essa graça permite-nos o que Francis Schaeffer chamou de co-beligerância, que é o ato da Igreja aliar-se aos demais segmentos da sociedade no combate por causas de justiça, como paz, direitos humanos, ecologia, entre outras.[
Quando falo da Graça Comum nos preservar na história, estou me referindo a situações como a fala do Eterno a Abraão sobre a história de seu povo: "Então o SENHOR disse: - Fique sabendo, com certeza, que os seus descendentes viverão num país estrangeiro; ali serão escravos e serão maltratados durante quatrocentos anos. Mas eu castigarei a nação que os escravizar. E os seus descendentes, Abrão, sairão livres, levando muitas riquezas. Você terá uma velhice abençoada, morrerá em paz, será sepultado e irá se reunir com os seus antepassados no mundo dos mortos. Depois de quatro gerações, os seus descendentes voltarão para cá; pois eu não expulsarei os amorreus até que eles se tornem tão maus, que mereçam ser castigados." Gn 15.13-16. Desta conversa pode-se depreender que a Graça Comum, diferente da Graça Especial, pode ser, de alguma maneira, resistida. E aqui o papel da Igreja se torna crucial, como parceira da Graça Comum na preservação da humanidade, como no caso de Sodoma e Gomora: "Finalmente Abraão disse: - Não fiques zangado, Senhor, pois esta é a última vez que vou falar. E se houver só dez? - Por causa desses dez, não destruirei a cidade. A Igreja deve ser a sociedade de justos na cidade, a partir do qual, a cidade possa sempre ser reinventada, livrando-a de se tornar torn tão mal que mereça ser castigada. Isso tem a ver com a incumbência, dada pelo Senhor, de ser o sal da terra. O que faz por meio da vida de devoção, pela prática da intercessão e pelo comportamento ético. Como sal da terra, a igreja detêm o avanço da maldade. Por outro lado, à medida em que a Igreja prega, apresenta-se como modelo e engaja-se na ação de recuperar a dignidade humana, por meio do serviço, está sendo luz do mundo, fazendo, portanto, a maldade retroceder.
Assim, a vida da Igreja é pura ação social
Fonte: www.ariovaldoramos.com.br



Nenhum comentário:

Postar um comentário