UMA VISÃO ESPIRITUAL DO DINHEIRO
Muita gente pensa que dinheiro é neutro, e que o problema de fato é o amor ao dinheiro. Mas a verdade é que o dinheiro é uma espécie de ser vivo. Uma coisa viva é uma potestade: coisa que funciona como se fosse gente. O dinheiro é assim, facilmente se transforma em uma divindade diabólica. Jesus chamou esse dinheiro que virou ídolo de Mamon.
Podemos definir ídolo como um falso deus, ou qualquer coisa que seja tão importante que, caso você a perca, achará difícil continuar vivendo. O dinheiro é um ídolo em potencial. O nome desse ídolo é Mamon: dinheiro elevado à categoria de deus. Quando o dinheiro se torna o fundamento de sua identidade e seu senso de valor, então ele se tornou seu ídolo, um deus rival ao Deus verdadeiro. E não duvide, todos os ídolos, isto é, todos os deuses falsos conduzem à morte. Os ídolos oferecem falsas esperanças, seguranças ilusórias e promessas vazias.
Deus, por definição, exige sua lealdade absoluta e exclusiva. Os ídolos também. Por isso Jesus disse que não é possível servir a dois deuses, ou, melhor dizendo, não possível servir a Deus e a Mamon (dinheiro elevado à categoria de deus, ou melhor, ídolo e falso deus, isto é, um demônio).
Não somos ingênuos. Sabemos que o dinheiro é um meio necessário para a sobrevivência. Mas sabemos também que o dinheiro é meio e não fim. Aquele que se deixa dominar pelo dinheiro perde o rumo da vida, da relação com os outros e do próprio relacionamento com o Deus verdadeiro. O dinheiro não pode ser o valor absoluto que governa a vida.
A Bíblia ensina que “quem vai pelo caminho dos gananciosos a si mesmo se destrói” [Provérbios 1.19], pois “os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos descontrolados e nocivos, que levam os homens a mergulharem na ruína e na destruição – o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos” [1 Timóteo 6.9,10].
Parta escapar das armadilhas do dinheiro, Jesus oferece quatro conselhos, resumidos em quatro verbos: restituir, transformar, multiplicar e doar.
Restituir é o conselho que surge do encontro entre Jesus e Zaqueu, um judeu que se vendeu para Roma e cobrava impostos extorsivos dos seus compatriotas em troca de comissionamento. Isto é, Zaqueu era rico, mas seu dinheiro era sujo. Diante de Jesus Zaqueu se comprometeu a devolver quadruplicadamente o que havia subtraido indevidamente das pessoas. Observando a disposição de Zaqueu, Jesus afirmou: esse homem encontrou a salvação [Lucas 19. 1-10].
O dinheiro quando atua como um ídolo, um Mamon, uma potestade, um deus falso, cativa o coração humano de tal maneira que nenhuma quantidade é considerada suficiente, e obriga as pessoas a fazerem até mesmo o ilícito, prejudicando outras, para que consigam mais dinheiro. A salvação, isto é, ser liberto desse demônio–Mamon implica abrir mão do dinheiro sujo. Cada um de nós deve se perguntar quanto dinheiro ilícito tem nas mãos. Encontrando dinheiro podre sob o colchão, devemos restituir a quem de direito. Não sendo possível restituir, devemos destinar esse dinheiro ao bem comum, livrando-nos dele, sob pena de que nos mantenha escravizados. A restituição é ao mesmo tempo um sinal, quanto um caminho de libertação–salvação.
Transformar é um outro verbo que indica como evitar que o dinheiro se torne Mamon. Jesus contou uma parábola a respeito de um homem que usou o dinheiro para fazer amigos [Lucas 16.1-13]. Nessa parábola Jesus chama o dinheiro de riqueza (1) injusta, (2) menor, (3) falsa, e (4) alheia. Sem dúvida, Jesus tinha uma visão negativa do dinheiro. Mas ensinou que devemos transformar dinheiro em outras riquezas maiores, verdadeiras e justas, que nos pertencerão de fato.
É mais fácil encontrar pessoas que perdem amigos para ganhar dinheiro, do que perdem dinheiro para ganhar amigos. Jesus era do segundo tipo, sabia que pessoas e relacionamentos valem mais do que dinheiro. Aliás, sabia que as verdadeiras riquezas não têm preço, e que qualquer dinheiro dispendido para ganhar aquilo cujo valor é inestimável é um ótimo negócio.
O terceiro verbo, que resume o conselho de Jesus para quem deseja evitar que o dinheiro se transforme em Mamon é multiplicar. Jesus conta também uma parábola a respeito de um administrador que distribuiu recursos entre seus empregados e depois de muito tempo voltou para saber o que havia sido feito com sua riqueza. O primeiro empregado havia multiplicado de um para dez, o segundo de um para cinco, e o terceiro havia escondido a riqueza, de modo que o recurso diminuiu em suas mãos, pois foi depreciado e desvalorizado. Jesus condena o homem que, com medo de perder, reteve os recursos [Lucas 19.11-27].
Jesus estava falando de uma dimensão espiritual e religiosa. Criticava a nação de Israel que havia retido seu tesouro espiritual escondendo-o de outras nações. Mas podemos aplicar essa parábola para a administração de todas as riquezas. Nesse caso, quem tem recursos em mãos deve colocá-los na ciranda das negociações, visando gerar mais recursos. Riquezas devem ser multiplicadas para o benefício do maior número de pessoas. Para que sejam multiplicados, os recursos eles devem ser colocados em circulação. Fazer dinheiro circular implica sempre as possibilidades de multiplicação e perda, mas, considerando que as riquezas existem para que todos, sem exceção, tenham acesso à vida digna, a acumulação egoísta, a poupança egocêntrica, e a retenção medrosa, implicam uma distorção dos propósitos de Deus para o dinheiro. Quem deseja reter apenas para si mesmo acabará com nada. Dinheiro parado apodrece.
Finalmente, o verbo doar exemplifica o que devemos fazer para que o dinheiro não se transforme em Mamon. O mesmo Zaqueu que se dispôs a restituir também se comprometeu a doar metade de sua fortuna para os pobres [Lucas 19.1-10].
O mundo não se sustenta sem genrosidade. Milhares de pessoas vivem vitimadas pela miséria, que equivale à fome e seus funestos irmãos: desnutrição, doenças, subdesenvolvimento e morte. A Bíblia ensina claramente a generosidade. “Os que são ricos no presente mundo não devem ser arrogantes, nem devem colocar sua esperança na incerteza da riqueza, mas em Deus, que de tudo nos provê ricamente, para a nossa satisfação. Devem praticar o bem e ser ricos em boas obras, generosos e prontos a repartir” [1Timóteo 6.17,18].
Restituir, transformar, multiplicar e doar. Eis os verbos que indicam como podemos evitar que o dinheiro se torne Mamon, o demônio que devora a nossa alma. Pois é verdade que “de nada adianta ganhar o mundo inteiro e perder a alma” [Mateus 16.26]. Sobre isso falaremos na próxima semana.
© 2010 Ed René Kivitz
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