Natal, encarnação divina
Pr.Ed René Kivitz
A Encarnação do Filho, em sua atordoante exuberância, aparentemente não bastara para um Deus suficientemente ambicioso. A divindade provera para si, através do precedente de Jesus, uma segunda e definitiva encarnação, efetuada pelo derramamento profuso da consciência universal de Cristo sobre os que eram tocados por ele. Deus revelava finalmente seu plano: um Filho singular não lhe bastava; seu projeto era ter uma multidão de Filhos. [Paulo Brabo]
Sabia que lembrar-se muito dele atrapalharia tudo, porque é preciso ser como ele e não para ele. E, para ser como ele, é preciso esquecê-lo, docemente esquecê-lo. Esquecê-lo é colocá-lo além da memória, é encarná-lo. Como as pernas e os braços que a gente tem e não se lembra, desde que não haja problemas com isso. [Rondinelly Gomes Medeiros]
Deus não faz coisa alguma ao nosso lado para nos completar, ou em nosso lugar, suprimindo-nos, mas faz com que nós façamos, pois sustenta nosso ser e agir. A ação parte da criatura, possibilitada pelo Criador. Assim, quanto mais faz Deus, mais fazem as criaturas, quanto mais as criaturas fazem, mais faz Deus. Onde a criatura falha, Deus também falha, porque desde que nos criou decidiu, livremente, nada fazer sem nosso acolhimento e aceitação. [Andrés Torres Queiruga]
Na parábola do Bom Samaritano… Deus não pode forçar a liberdade. O sacerdote e o levita não acolhem o apelo divino. Só o samaritano se compadece. Nesse momento, Deus pode realmente salvar o ferido. O samaritano passou a ser a mão divino: sem ela, Deus “nada” poderia fazer. A ação humana nasceu do apelo divino e dEle recebeu seu ser, força e inspiração para agir… [Deus] sem intervir na autonomia do criado, interpela a liberdade e a autonomia, para que, sem quebrar a legalidade do mundo [possa agir]. [Andrés Torres Queiruga]
Por minha ressurreição eu envio o meu Espírito… A partir de agora, nunca mais como antes acalmarei a tempestade. Mas o meu Espírito a acalmará quando vós tiverdes construído navios capazes de suportar as ondas. Nunca mais tornarei a alimentar multidões no deserto, mas o farei quando o meu Espírito criador vos tiver levado a aperfeiçoar os solos a distribuir suas riquezas. E se nestas tarefas de amor sofreis, eu não posso evitá-o porque já não estou “entre vós”, mas “em vós”. Mais ainda, sou eu quem em cada um de vós sofro o mar tempestuoso e a fome. Exatamente como vós. Não vos embarquei numa aventura sem saber se o porto vale a travessia. A única garantia que posso vos dar é o ter-me embarcado definitivamente convosco. [Juan Luis Segundo]
Nossa maioridade nos conduz a um verdadeiro reconhecimento de nossa situação diante de Deus. Deus quer que saibamos que devemos viver como quem administra sua vida sem ele. O Deus que está conosco é aquele que deserta de nós. O Deus que nos permite viver no mundo sem a hipótese funcional de Deus é aquele diante do qual permanecemos continuamente. Diante de Deus e com Deus, vivemos sem ele. [...] Deus é fraco e sem poder neste mundo, e essa é a precisamente a maneira, a única maneira pela qual ele está conosco para nos ajudar. [Dietrich Bonhoeffer]
Nenhum comentário:
Postar um comentário